Paralisia do Sono

Já lhe aconteceu acordar e não se conseguir mexer?

Isto é algo relativamente comum e (felizmente) temporário que ocorre durante a transição entre os estados de sono e vigília e dá pelo nome de Paralisia do Sono!

Quando acontece, a pessoa acorda com incapacidade de realizar movimentos voluntários, apesar de estar consciente.

Se nunca lhe aconteceu acredite que a experiência pode ser perturbadora!!

Mas porque é que isto acontece???

Durante o sono REM, o cérebro inibe naturalmente os músculos esqueléticos do corpo, um mecanismo protector para evitar que se aja fisicamente durante os sonhos. No entanto, ocasionalmente, essa inibição muscular persiste brevemente após a pessoa acordar e ficar consciente.

Existem algumas teorias que explicam porque isto acontece:

  1. Transição incompleta entre sono e vigília: O cérebro não consegue fazer a transição completa do estado de sono REM para o estado de vigília total, resultando numa mistura temporária desses dois estados.
  2. Dissociação mente-corpo: Enquanto a mente acorda e fica consciente, o corpo permanece temporariamente paralisado, como se ainda estivesse no estado de sono REM.
  3. Processos paralelos de despertar: Diferentes áreas do cérebro responsáveis pelo despertar, consciência e controle muscular podem não estar perfeitamente sincronizadas, causando um lapso de paralisia.

Embora as causas exatas não estejam ainda totalmente compreendidas, alguns fatores podem aumentar o risco de paralisia do sono, como:

  • Privação de sono
  • Dormir em posições desconfortáveis
  • Stress ou ansiedade
  • Distúrbios do sono (como apneia obstrutiva do sono)
  • Consumo de álcool ou determinados medicamentos

É importante sublinhar que, embora possa ser uma experiência assustadora, a Paralisia do Sono é geralmente benigna e termina naturalmente após alguns segundos ou minutos, à medida que o cérebro se reajusta e retoma o controle muscular completo.

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Dr. Gustavo Reis
29 mai 2024

Oxigenoterapia

Motard com oxigenoterapia

A terapia com oxigénio, também conhecida como oxigenoterapia, é uma forma de tratamento médico que envolve a administração de oxigénio suplementar a pacientes com baixos níveis de oxigénio no sangue (hipoxemia) ou tecidos (hipóxia). Esta terapia é amplamente utilizada em diversas situações clínicas e pode ser administrada de várias formas.

  1. Indicações e benefícios:
    • A oxigenoterapia está indicada em doenças respiratórias agudas como a pneumonia ou o tromboembolismo pulmonar; ou crónicas, como são exemplos a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), a fibrose pulmonar, as bronquiectasias, a insuficiência cardíaca e a hipertensão pulmonar, entre outras.
      Os principais benefícios incluem melhor oxigenação dos tecidos, redução da falta de ar, melhora da qualidade de vida e redução do risco de complicações relacionadas com a hipóxia.
  2. Formas de administração:
    • Oxigenoterapia Convencional: a forma mais comum e que pode ser administrado através de cânulas nasais, máscaras faciais ou ventiladores mecânicos, dependendo da gravidade da situação.
    • Oxigenoterapia de Alto Fluxo: que fornece oxigénio em altas concentrações e taxas de fluxo, melhorando a oxigenação e a ventilação em pacientes com insuficiência respiratória aguda e crónica. É usada para evitar a entubação em pacientes com hipoxemia grave, proporcionando um suporte respiratório mais confortável e eficaz.
  3. Sistemas de oxigénio:

    Já todos visitámos doentes no hospital a fazer oxigénio e temos uma ideia do que se trata, mas e bom saber que existem vários sistemas que se adequam a diferentes situações:

    • Oxigénio Gasoso: armazenado em cilindros metálicos (botijas) de diferentes dimensões / capacidades, que podem usados em casa dos doentes ou durante o transporte.
    • Concentradores de Oxigénio: Dispositivos que podem ser fixos ou portáteis e que extraem o oxigénio do ar ambiente, fornecendo um fluxo contínuo de oxigénio concentrado.
    • Oxigénio Líquido: Tanques isolados que armazenam oxigénio em estado líquido. Habitualmente é nesta forma que o oxigénio está armazenado nos hospitais, mas também pode estar em casa do doente ou ser utilizado na rua de forma portátil.
  4. Monitorização e Cuidados:

    Os níveis de oxigénio no sangue são monitorados através de oxímetros de pulso ou análises de gasímetria arterial, em que é puncionada uma artéria, habitualmente no pulso, para obtenção de sangue arterial.
    É importante ajustar o fluxo de oxigénio de acordo com as necessidades individuais do paciente. O oxigénio pode ser prescrito de forma aguda, perante uma doença súbita, durante alguns dias, de forma crónica nas doenças crónicas, habitualmente nunca menos de 18horas por dia, ou de forma paliativa, nos doentes terminais, mas em situação alguma deve ser prescrito ou utilizado em SOS.

  5. Efeitos colaterais e precauções:

    A oxigenoterapia geralmente é bem tolerada, sobretudo em débitos baixos, mas pode causar secura das vias aéreas, irritação nasal ou desconforto.

    O oxigénio é um fármaco e como tal em casos de administração em doses desajustadas pode ocorrer toxicidade por oxigénio, com potenciais consequências graves. Além disso o oxigénio é altamente inflamável, pelo que é preciso um cuidado extremo com fontes de ignição.

    Em conclusão, a terapia com oxigénio é uma intervenção médica essencial para garantir níveis adequados de oxigénio e melhorar a qualidade de vida de pacientes com patologias. No entanto, é fundamental que seja administrada sob supervisão médica adequada e com monitorização contínuo para garantir a segurança e eficácia do tratamento.

    Infelizmente, ainda é comum constatar que os doentes que usam oxigénio na rua são alvo de olhares indiscretos, fazendo com que se sintam ainda mais reféns da sua doença e levando a que não saiam de casa ou o façam sem o oxigénio, colocando em risco a sua própria vida.

    É imperativo desmistificar este tema!

    Dr. Gustavo Reis
    25 mai 2024

Pneumotórax

pneumotorax

Ainda esta semana observei 3 doentes com Pneumotórax. Há semanas assim, em que por obra do acaso os doentes se agrupam por doenças. Três casos completamente diferentes!

Um espontâneo, num jovem fumador com bolhas de enfisema, outro traumático, devido a uma queda de bicicleta em que uma costela partida perfurou o pulmão e outro “iatrogénico”, ou seja, na sequência de um procedimento médico, no caso, uma biopsia pulmonar.

O que é afinal um Pneumotórax?

Bem, um Pneumotórax não é mais do que um colapso pulmonar, que ocorre quando ar entra para o Espaço Pleural.

Vamos lá a um pouco de anatomia… os nossos pulmões são revestidos por uma membrana fina – a Pleura Visceral. O interior da nossa caixa torácica é igualmente revestido pela mesma membrana – a Pleura Parietal.
As duas Pleuras, numa situação normal, estão encostadas uma à outra e tudo funciona em conjunto. Quando a caixa torácica expande, por ação dos músculos inspiratórios, os pulmões também expandem.
No entanto, quando o ar entrar para o espaço entre as duas pleuras, este mecanismo deixa de funcionar e o pulmão colapsa. É uma situação que exige uma observação imediata!

O que pode causar um Pneumotórax?

Um Pneumotórax pode, de um modo geral, ter 3 causas: doença médica, traumatismo e estilo de vida.

Entre as principais doenças que aumentam o risco de Pneumotórax estão enfisema, a doença pulmonar obstrutiva crónica, asma, tuberculose, cancro do pulmão e fibrose quística, entre outras menos frequentes.

As situações de traumatismo referem-se a acidentes de viação/trabalho, lesões por arma de fogo / arma branca, procedimentos médicos e ventilação mecânica. No estilo de vida vamos incluir o tabagismo, o uso drogas inaladas e o mergulho em profundidade.

Como se manifesta um Pneumotórax?

O Pneumotórax pode manifestar-se com dor aguda de um dos lados do tórax, que se agrava com a inspiração, sensação de falta de ar, cansaço fácil, tosse e aceleração do ritmo respiratório e cardíaco.

Como se trata um Pneumotórax?

O tratamento depende da causa, do tamanho e da gravidade do Pneumotórax.

Pode passar pela vigilância, nos casos de muito pequena dimensão e sem impacto clínico, sendo o ar do espaço pleural absorvido. No entanto, nos de maior dimensão e sintomáticos, é necessário inserir um dreno torácico para permitir a saída do ar e a expansão pulmonar. A intervenção cirúrgica, habitualmente minimamente invasiva, pode ser necessária nos casos em que continue a entrar ar para o espaço pleural, na ausência de expansão pulmonar, se houver colapso recorrente, se ambos os pulmões forem afetados e nos casos de lesão pulmonar por trauma.

Dr. Gustavo Reis
20 ago 2022

Pneumonia

pneumonia Ainda esta semana recebi uma mensagem do meu doente e amigo Moisés. Tosse… expectoração… uma pontada persistente nas costas!

Os sintomas eram típicos e na consulta tivemos a certeza! Uma pneumonia do lobo inferior direito!!

As pneumonias são causa de um número crescente de internamentos hospitalares, morbilidade e mortalidade significativas, especialmente para grupos etários mais idosos De acordo com o último relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias de 2020 a Pneumonia foi responsável por 5799 óbitos nesse ano - 16 por dia, sendo a principal causa de morte por doença respiratória, representando 5% do total de óbitos.

O que é a Pneumonia?

Trata-se de uma infeção que pode atingir um ou ambos os pulmões, causada por uma bactéria, um vírus ou um fungo. Quando a infeção pulmonar ocorre observa-se um edema das vias aéreas pela inflamação e o preenchimento dos alvéolos pulmonares por mucos e outros fluidos. Quais são os sintomas de Pneumonia?

Os sintomas podem variar desde ligeiros a graves e surgir de forma gradual ou abrupta, dependendo do microrganismo envolvido e do estado geral de saúde e idade do doente. Entre os sintomas mais habituais encontram-se a febre, cansaço, dificuldade respiratória, tosse com ou sem expetoração, dor torácica, perda de apetite, transpiração, arrepios e confusão.
A Pneumonia é contagiosa? Alguns tipos de Pneumonia são contagiosos, sendo a principal forma a disseminação pessoa-a-pessoa que ocorre quando aerossóis que contêm as bactérias ou os vírus, lançados no ar por alguém que tosse ou espirra, são inalados por outros. Também pode haver transmissão associada à partilha de objetos pessoais ou contacto com superfícies contaminadas pela pessoa infetada.

Quem está em maior risco de desenvolver Pneumonia?

  • Pessoas com idade superior a 65 anos e crianças abaixo dos 2 anos,
  • Pessoas cujo sistema imunitário está debilitado, nomeadamente quem está a realizar quimioterapia ou medicamento imunossupressores, transplantados, pessoas com HIV/SIDA e restantes imunodeprimidos
  • Pessoas com doença pulmonar, renal ou cardíaca crónica
  • Fumadores e alcoólicos
  • Pessoas com exposição a fumos tóxicos, químicos e tabagismo passivo.
  • Grávidas

Estão disponíveis vacinas para a Pneumonia?

Sim, estão disponíveis várias vacinas aprovadas para a pneumonia provocada pelo Streptococcus pneumoniae (pneumonia pneumocócica), o agente bacteriano mais frequente. Tal como sucede com a vacina da gripe, estas vacinas não protegem contra todos os tipos de pneumonia, mas na eventualidade de contrair uma pneumonia pneumocócica, diminui significativamente a probabilidade de um quadro grave ou fatal, particularmente nos grupos de maior risco.

Além das vacinas recomendadas, o que mais pode ajudar a prevenir a Pneumonia?

  • Parar de fumar e evitar a exposição tabágica passiva
  • Higienizar as mãos cm regularidade
  • Evitar convivência com pessoas que apresentem sintomas respiratórios
  • Não partilhar objetos de uso pessoal
  • Ter uma dieta saudável, praticar exercício e descansar o suficiente
  • Controlar as restantes doenças crónicas existentes
  • Evitar o consumo excessivo de álcool.
Dr. Gustavo Reis
01 dez 2022

Enfisema

Ainda esta semana recebi uma mensagem, através do messenger, em que alguém me dizia que tinha Enfisema e perguntava se era grave!

Lembrou-me imediatamente de uma última consulta numa sexta-feira, por sinal antes das, já esgotadas, férias... em que um doente, visivelmente apreensivo, vem ao meu encontro no consultório, com um relatório de TC que mencionava, precisamente, Enfisema!

O que significa, afinal, Enfisema?? enfisema

O Enfisema é uma doença pulmonar, que habitualmente se desenvolve após anos de tabagismo. A bronquite crónica e o enfisema, pertencem ambos a um grupo de doenças pulmonares a que atualmente chamamos Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)

De forma resumida, o Enfisema é uma doença que envolve a destruição dos alvéolos.

Os alvéolos são minúsculos saquinhos, que existem agrupados nas extremidades dos bronquíolos. Estima-se que cada um de nós, venha "de origem", com cerca 300 milhões de alvéolos. Quando inspiramos, os alvéolos distendem e o ar entra, transportando um novo carregamento de oxigénio para o sangue. Quando expiramos, os alvéolos voltam à sua forma original e o ar deixa os pulmões, levando dióxido de carbono.

No Enfisema, com a destruição dos alvéolos e tecido pulmonar, diminui a quantidade de oxigénio transportado para o sangue e desenvolve-se obstrução brônquica. Embora muitas vezes seja detetado na TC, a forma mais rigorosa que temos para quantificar a sua gravidade é através das Provas de Função Respiratória

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Quais são os sintomas?

São semelhantes a muitas outras doenças pulmonares e incluem falta de ar, cansaço, sensação de aperto no peito, pieira, tosse e expectoração. Costumo explicar aos meus doentes fumadores que o Pulmão é um órgão traiçoeiro, porque muitas vezes, os sintomas só aparecem, quando quase 50% da capacidade já se perdeu.

E como tratamos os doentes com Enfisema?

Obviamente, deixando de fumar!
Utilizando broncodilatadores inalados, as famosas "bombas", cujos receios é necessário desmistificar!
Prevenindo infecções, através das várias vacinas disponíveis para o efeito.

Termino com a história de um doente, e agora também amigo, que chegou até mim quase sem capacidade para caminhar pela falta de ar que tinha. O diagnóstico? Enfisema! E grave! Felizmente, estava localizado na parte superior dos pulmões, sob a forma de grandes bolhas! Foi operado com sucesso e hoje faz trecking e geocaching.

Dr. Gustavo Reis
06 ago 2022