A máquina do sono é para sempre?

Máquina sono - Apneia Ainda esta semana, na consulta de Patologia do Sono, uma doente me perguntava se, a mal-fadada máquina de tratamento da apneia do sono, o CPAP, era para sempre...?

Será?
Bem... depende de vários fatores!

Depende, por exemplo, do tipo de apneia do sono. Se houver um componente de apneia central - aquela em que as paragens respiratórias se devem à falta de ordem do sistema nervoso central para que a respiração se dê - é importante optimizar a parte cardíaca, mas ainda assim, pode manter-se a necessidade de tratamento.

Se, por outro lado, a apneia for de causa obstrutiva, temos que avaliar os fatores anatómicos / morfológicos, alguns eventualmente corrigiveis, devendo sempre ser considerada uma avaliação multidisciplinar em conjunto com a otorrino, medicina dentária e cirurgia maxilo-facial.

E, ainda no âmbito da apneia obstrutiva, aquele que é o fator mais relevante - o excesso de peso!
Estima-se que uma perda de 10-15% do peso corporal possa reduzir em 50% a gravidade da apneia. Ainda que não seja suficiente para corrigir totalmente uma grande parte dos casos, poderá sê-lo para se considerar outras opções de tratamento, como o dispositivo de avanço mandibular ou terapia posicional. Falarei disso outro dia!

A propósito da perda de peso e da apneia, ligou-me há 2 dias um amigo. Perdeu 25kg! Parabéns!
Estará curado!? A mulher diz que já não ressona e dorme bem!

Calma! Muitas das apneias não são identificadas por quem dorme ao lado e, o próprio, também não tem percepção.

É preciso testar!

O meu conselho: deixa o peso estabilizar uns meses e depois repetimos o estudo do sono, mas não suspendas o tratamento.

Bom fim de semana!
Dr. Gustavo Reis
30 jul 2022

Nódulos Pulmonares

Ainda esta semana me ligou um amigo, por causa de uma TAC que tinha feito e cujo relatório tinha "lá uma coisa que de que não gostou nada"!

nodulos pulmonares

É claro que o Paulo tinha algumas culpas no cartório... Fumador de longa data, daqueles que fuma com prazer e, para quem, apesar de reconhecer não lhe faz muito bem, não lhe passa verdadeiramente pelo espírito deixar o tabaco.

"E afinal, o tinha a TAC?!"
"Fala aqui num micro-nódulo pulmonar sólido!!"

Ora bem...

Os micro-nódulos pulmonares são muito frequentes e a maioria são benignos, sendo o resultado de um crescimento anormal de tecido no pulmão.
Habitualmente são identificados em Rx ou TAC, muitas vezes realizados por outro motivo qualquer.

Pode ser apenas um ou podem ser vários e atingir apenas um dos pulmões ou estar presentes em ambos.
De qualquer forma, vasta maioria, não causa qualquer sintoma.

O que é que causa estes nódulos?

Bem, podem ter inúmeras causas - infecções, processos de cicatrização, doenças auto-imunes e, apenas raramente, neoplasias.

Felizmente 95% dos nódulos são benignos! Ainda assim é totalmente compreensivel que, ao tomar conhecimento da sua existência, gerem muita ansiedade e apreensão!

Felizmente existem protocolos de acompanhamento destes nódulos, para sabermos exatamente como devemos proceder em função do seu aspecto, tamanho e fatores de risco.

Gosto de explicar aos meus doentes que, quando tomamos conhecimento da existência destes nódulos, é exactamente como quando conhecemos uma pessoa. Podemos gostar mais, ou menos, do seu aspeto, ou ser influenciados por alguma informação prévia, mas só o tempo dirá acerca da sua verdadeira índole.

É claro que, em determinados casos, não podemos ficar passivamente a vigiar o seu comportamento e temos que avançar com outros exames, seguido os ditos protocolos.

Felizmente, no caso do meu amigo Paulo, foi possível traçar um plano simples de seguimento por TAC.

Ahhh... o Paulo não fuma desde que leu o relatório.

Dr. Gustavo Reis
23 jul 2022

Bronquiectasias

tac

Ainda esta semana recebi uma mensagem de uma doente que acompanho há vários anos! Alguém por quem tenho muita estima e grande empatia. Com os seus quase 80 anos, estava em pânico! Recebeu o relatório da TAC torácica e, entre o que entendeu e alguns termos menos conhecidos, decidiu Googlar "Bronquiectasias".

  • O que raio são afinal Bronquiectasias?
  • Era grave?
  • Quanto tempo teria?

bronquiectasias

As Bronquiectasias são dilatações anómalas e irreversíveis dos brônquios e bronquíolos.
Podem desenvolver-se na sequência de infecções respiratórias, como uma pneumonia mais arrastada ou tuberculose, ou resultar de alterações do sistema imunológico.

As bactérias adoram estes brônquios dilatado e tortuoso! São o local perfeito para as suas colónias.

Na verdade, inicia-se um ciclo vicioso, em que o doente desenvolve, com frequência, infecções pulmonares de repetição.

Como em quase todas as patologias, o foco deve estar na prevenção!
Prevenção das infecções, tratando-as prontamente, de forma a que as bronquiectasias não se desenvolvam. E também, nos casos em que estas já estão presentes, de forma a não alimentar este ciclo vicioso. Aqui, assumem um papel fundamental a vacinação e a fisioterapia respiratória.

Felizmente, pude descansar a minha estimada doente! A situação é ligeira e, com o acompanhamento adequado, o prognóstico é excelente.

Dr. Gustavo Reis
11 jul 2022

Asma

asma

Ainda esta semana a Sofia, arquitecta a meio dos 30, que acompanho na consulta há relativamente pouco tempo por Asma, me perguntava, em jeito de desafio...

"Doutor, agora que já estou bem, já posso parar as bombas, certo!? Não quero ficar dependente disto..!"

A verdade é que a questão da Sofia é, na vida real, a inquietação de muitos doentes que tenho o gosto de seguir.

Bem... a Asma é uma doença em que as vias aéreas estão obstruídas, a sua parede espessada e há maior produção de muco. Isto faz com que seja mais dificil respirar, podendo desencadear tosse, pieira, opressão torácica e falta de ar.

A Asma tem por base um processo inflamatório crónico, com maior ou menor intensidade e com características que variam de doente para doente e, no mesmo doente, ao longo do tempo.

Por isso, a abordagem terapêutica desta doença tem que ser, obrigatoriamente, personalizada e dinâmica! A mesma receita não funciona para todos, nem está adequada indefinidamente.

Como tal, seguimos uma estratégia terapêutica, em degraus de intensidade, que vamos subindo ou descendo em função do controlo dos sintomas.

É muito importante que estes ajustes terapêuticos sejam feitos de forma precisa, para que o tratamento não peque por excesso, nem por defeito!

Portanto se a Sofia "parar tudo" quando se sente bem, corre maior risco de um reaparecimento, por vezes intempestivo, dos sintomas - a crise!

Por outro lado, se tratarmos apenas nos períodos de crise, vamos permitir que a inflamação, mal controlada, provoque alterações irreversíveis das vias aéreas, levando a que a resposta aos inaladores seja cada vez menor.

Então, Sofia, na asma não se trata de uma situação de dependência dos inaladores, mas sim de uma necessidade de controlo da doença, para evitar complicações futuras!

Dr. Gustavo Reis
16 jul 2022